Estado de Minas destaca participação da professora Carla Furtado em evento realizado no último fim de semana em BH, a convite da FIEMG, do SEBRAE e do IEL.
Carla Furtado*
Mulheres
não vencerão sozinhas os desafios de ser mulher. Não vão suplantar o cansaço da
jornada tripla, se esquivar dos riscos majorados para transtornos mentais e
comportamentais ou derrotar a inequidade no mercado de trabalho com uma receita
de 5 passos ou um bate-papo motivacional. A saúde mental da mulher é uma
construção coletiva e social.
Basta
que se lance um breve olhar à produção científica para que as evidências de
maior sofrimento se estabeleçam. Se a conquista de direitos ao longo das
décadas é inegável, a queda no bem-estar das mulheres também é: para elas, a
felicidade tem declinado de maneira absoluta e relativa quando comparada aos
homens. Esse fenômeno foi batizado de ?paradoxo da felicidade feminina?.
Com
a pandemia, o mal-estar nas mulheres se agravou. Estudo recém-publicado por
pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos na renomada revista Nature
evidenciou que mulheres brasileiras saudáveis apresentaram, no primeiro ano
da crise sanitária mundial, incremento na fadiga com sintomas associados a
depressão e ansiedade e piora da qualidade do sono. No segundo ano, o estudo
longitudinal mostrou que elas seguiram sofrendo.
As
causas são evidentes. Dos milhões de demissões observados nos primeiros meses da
pandemia, as mulheres formaram o maior grupo, tanto em países desenvolvidos
quanto nas nações em desenvolvimento. Some-se a isso a inequidade na divisão do
trabalho doméstico. De acordo com pesquisa capitaneada pela organização CARE, e
realizada em 38 países, 55% das mulheres fazem trabalhos relativos aos cuidados
com a casa contra apenas 18% dos homens. No acompanhamento da escola, quase
toda a carga de atenção às crianças é delas. Isso tudo sob a pressão diuturna
por copos magros e capazes de vencer o tempo.
O
Dia Internacional da Mulher não é uma data festiva. É um holofote a ser usado
para produzir reflexão, aprendizado e ação. Ainda dá tempo: este ano, em vez de
convidar as mulheres para aprender algo mais para darem conta sozinhas do
imponderável, convide-as para uma roda de conversa. Permita que falem e
escute-as com ouvidos compassivos.
* Mestre e Doutoranda em Psicologia pela
Universidade Católica de Brasília, Especialista em Neurociência e Comportamento
pela PUCRS).? Docente da PUCRS, da Cátedra Unesco e do Instituto de Ensino e
Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein. Autora do livro Feliciência:
Felicidade e Trabalho na Era da Complexidade (Almedina). Diretora do Instituto
Feliciência.
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