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LIDERANÇA IMPACTA A SAÚDE MENTAL

  • 06/03/2023
  • Estado de Minas

Carla Furtado*

Um estudo científico recém-publicado confirma: estilos de liderança impactam de maneira significativa na saúde mental dos colaboradores. A novidade trazida por pesquisadores das Universidades de Tübingen, na Alemanha, e Radboud, na Holanda, é que organizações se beneficiam ao adotar duas iniciativas simultâneas: mitigar comportamentos tóxicos em líderes que ainda os praticam e incrementar o número de líderes com comportamentos saudáveis. Em outras palavras, é sobre reduzir o negativo e ampliar o positivo ao mesmo tempo.  

Para chegar a esta conclusão, foram analisados 53 estudos que verificaram diferentes estilos de liderança e seus impactos no bem-estar dos trabalhadores. A metanálise apresenta sete diferentes tipos, sendo a Liderança Transacional a mais usual - quando se premia quem performa bem e se pune quem não apresenta o desempenho desejado.  Que não se confunda Liderança Transacional com Liderança Transformacional, até porque foi esta segunda que apresentou o melhor impacto na saúde mental dos colaboradores, enquanto a Liderança Destrutiva ficou no polo oposto - sim, ela existe e com este nome.
 

Um Líder Transformacional caracteriza-se por influenciar sua equipe a partir de uma visão inspiradora que estimula o engajamento e o pensamento criativo, além de abordar e considerar cada integrante de maneira única. Este estilo, segundo a pesquisa, apresentou os melhores resultados na avaliação subjetiva de bem-estar dos colaboradores. Já a Liderança Destrutiva caracteriza-se pelo comportamento agressivo e potencialmente prejudicial do líder em relação ao seu time, bem como o encorajamento para que os colaboradores contrariem os interesses da organização. Este, como é de se imaginar, afeta diretamente a saúde mental do trabalhador.

O momento eureca vem a seguir: a pesquisa mostrou que o potencial prejudicial de um líder ruim não é maior que o potencial benéfico de um líder inspirador. Os cientistas concluíram que a Liderança Transformacional é tão poderosa para explicar os resultados positivos de saúde mental quanto a Liderança Destrutiva para explicar os resultados negativos. E é aqui que recomendam que as organizações mitiguem a Liderança Destrutiva e, ao mesmo tempo, incrementem o número de líderes transformacionais. É preciso desenvolver aqueles que estão no meio do caminho, os que longe de adotarem comportamentos tóxicos ainda não desenvolveram competências para inspirar e engajar.  

Apresentados os achados da pesquisa, que já atingiu um fator de impacto considerável na comunidade científica mundial, partilho aqui minhas reflexões como também pesquisadora em saúde mental e bem-estar do trabalhador. Estamos atravessando elevados índices de depressão e Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), com cerca de 15% os trabalhadores vivenciando algum transtorno mental e comportamental. Apoiar e desenvolver os líderes dentro de modelos que priorizem a saúde - deles mesmos e de suas equipes - apoiará a sedimentação de uma cultura de florescimento humano e dos negócios. As organizações devem trabalhar para que os colaboradores usem os recursos oferecidos para promoção da saúde em benefício do bem-estar e não, para anestesiar os efeitos nocivos de ambientes e relações tóxicas.

* Mestre e Doutoranda em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília, Especialista em Neurociência e Comportamento pela PUCRS).? Docente da PUCRS, da Cátedra Unesco e do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein. Autora do livro Feliciência: Felicidade e Trabalho na Era da Complexidade (Almedina). Diretora do Instituto Feliciência.

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