Estado de Minas destaca participação da professora Carla Furtado em evento realizado no último fim de semana em BH, a convite da FIEMG, do SEBRAE e do IEL.
*Carla Furtado
As
empresas já sabem: segurança psicológica é palavra de ordem. Mas, passados
pouco mais de dois anos da chegada do termo e de tudo que orbita à sua volta ao
Brasil, o que mais há para aprender? Muito, estamos apenas começando. Cumprimos
bem a primeira curva de aprendizado. Vemos as organizações, os executivos e a
mídia especializada tratando do tema com propriedade. Mas, ainda ouvimos as
empresas perguntarem: "como de fato fazer acontecer na prática?".
E foi a
escuta recorrente de algumas das maiores companhias do País que nos levou a desenvolver
a Liderança Segura - um Protocolo de Segurança Psicológica Aplicada.
Conhecemos em profundidade o que ensinam os principais teóricos da área - Amy Edmondson
e Timothy Clark - além de relevantes cientistas sociais. Unimos o que
preconizam para desenvolver um programa efetivo baseado em 5 pilares.
O
primeiro deles, ao contrário do que se possa imaginar, é desaprender. Assumimos
como premissa a criação de uma escola onde os executivos venham para
desaprender os paradigmas de pensamento e as práticas que lhes foram ensinadas.
O fato é que esta década está desmaterializando o que funcionou até poucos anos
nas relações líder-liderado e seguir os antigos preceitos implica em naufragar.
Para isso, é fundamental desenvolver uma habilidade chamada humildade
situacional, que implica em ter conhecimento preciso de suas próprias limitações
e estar continuamente interessado nas ideias e opiniões dos outros. Habilidades
são treináveis, humildade se aprende e isso faz parte dos nossos laboratórios
com líderes.
O segundo
pilar da Liderança Segura é o estímulo ao uso da voz por parte do
colaborador. Tratamos de diferentes formas de uso de voz - do orgânico ao
institucional, do one on one ao all hands on - com o objetivo de
instrumentalizar os líderes em uma série de práticas e ritos com seus times.
A habilidade em foco nesta etapa é a escuta generativa, desenvolvida nos
laboratórios de pesquisa-ação do MIT. É primordial reposicionar a escuta do líder como um dos mais relevantes
atributos de segurança psicológica para o time e de gestão de riscos para toda
a companhia.
Pode
parecer que o principal trabalho a ser feito é estimular o time a falar e
dispor-se a escutá-lo. Mas, de fato, será o comportamento posterior do
líder que vai ditar se o ambiente é ou não seguro para riscos interpessoais.
Chegamos ao terceiro pilar: responder de forma produtiva. Isso requer o
desenvolvimento de mais uma habilidade: a consciência emocional, que
permite não o controle das emoções, mas a modulação das respostas. As
neurociências contemporâneas, em especial os cientistas Matthew Lieberman e
Tania Singer, embasam o que tratamos sobre o cérebro social e o impacto do comportamento
pró-social.
O próximo
passo da Liderança Segura coloca o líder frente a frente com o que há de mais
humano: o erro. O quarto pilar tem por objetivo desestigmatizar a falha. Em primeiro lugar, nenhuma falha pode se tornar um estigma, uma marca indelével, algo que não se apaga. Quanto aos erros de
aprendizagem e os resultados nulos nos ensaios de inovação, são partes inerentes dos processos. Para as demais falhas, o líder deve estar habilitado para compreender por que ocorreram com o objetivo de evitar que se repitam e, principalmente, para promover o aprendizado coletivo do time. Para isso, se beneficiará com o aprimoramento da resiliência, compreendida hoje cientificamente como a capacidade de atuar e se desenvolver frente a mudanças e incertezas.
Por fim,
mas igualmente valoroso, o quinto pilar: potencializar o que funciona. Um
time que opera a partir da validação de suas forças cresce em autoestima e autoeficácia
e isso dependerá da positividade do líder. Que ninguém se engane: não basta o tapinha nas
costas, é necessário estabelecer ritos e práticas com especial foco no reconhecimento.
E isso, felizmente, também se aprende.
*Diretora do Instituto Feliciência e autora do livro Feliciência: Felicidade e Trabalho na Era da Complexidade. Docente de Psicologia Positiva na PUCRS e no Hospital Albert Einstein. Pesquisadora Científica na USP e na Universidade Católica de Brasília.