New In - Exibir Post

OS 5 PASSOS DA LIDERANÇA SEGURA

  • 25/07/2023
  • Instituto Feliciência

*Carla Furtado

As empresas já sabem: segurança psicológica é palavra de ordem. Mas, passados pouco mais de dois anos da chegada do termo e de tudo que orbita à sua volta ao Brasil, o que mais há para aprender? Muito, estamos apenas começando. Cumprimos bem a primeira curva de aprendizado. Vemos as organizações, os executivos e a mídia especializada tratando do tema com propriedade. Mas, ainda ouvimos as empresas perguntarem: "como de fato fazer acontecer na prática?".

E foi a escuta recorrente de algumas das maiores companhias do País que nos levou a desenvolver a Liderança Segura - um Protocolo de Segurança Psicológica Aplicada. Conhecemos em profundidade o que ensinam os principais teóricos da área - Amy Edmondson e Timothy Clark - além de relevantes cientistas sociais. Unimos o que preconizam para desenvolver um programa efetivo baseado em 5 pilares.
O primeiro deles, ao contrário do que se possa imaginar, é desaprender. Assumimos como premissa a criação de uma escola onde os executivos venham para desaprender os paradigmas de pensamento e as práticas que lhes foram ensinadas. O fato é que esta década está desmaterializando o que funcionou até poucos anos nas relações líder-liderado e seguir os antigos preceitos implica em naufragar. Para isso, é fundamental desenvolver uma habilidade chamada humildade situacional, que implica em ter conhecimento preciso de suas próprias limitações e estar continuamente interessado nas ideias e opiniões dos outros. Habilidades são treináveis, humildade se aprende e isso faz parte dos nossos laboratórios com líderes.

O segundo pilar da Liderança Segura é o estímulo ao uso da voz por parte do colaborador. Tratamos de diferentes formas de uso de voz - do orgânico ao institucional, do one on one ao all hands on - com o objetivo de instrumentalizar os líderes em uma série de práticas e ritos com seus times. A habilidade em foco nesta etapa é a escuta generativa, desenvolvida nos laboratórios de pesquisa-ação do MIT. É primordial reposicionar a  escuta do líder como um dos mais relevantes atributos de segurança psicológica para o time e de gestão de riscos para toda a companhia.


Pode parecer que o principal trabalho a ser feito é estimular o time a falar e dispor-se a escutá-lo. Mas, de fato, será o comportamento posterior do líder que vai ditar se o ambiente é ou não seguro para riscos interpessoais. Chegamos ao terceiro pilar: responder de forma produtiva. Isso requer o desenvolvimento de mais uma habilidade: a consciência emocional, que permite não o controle das emoções, mas a modulação das respostas. As neurociências contemporâneas, em especial os cientistas Matthew Lieberman e Tania Singer, embasam o que tratamos sobre o cérebro social e o impacto do comportamento pró-social.  


O próximo passo da Liderança Segura coloca o líder frente a frente com o que há de mais humano: o erro. O quarto pilar tem por objetivo desestigmatizar a falha. Em primeiro lugar, nenhuma falha pode se tornar um estigma, uma marca indelével, algo que não se apaga. Quanto aos erros de aprendizagem e os resultados nulos nos ensaios de inovação, são partes inerentes dos processos
. Para as demais falhas, o líder deve estar habilitado para compreender por que ocorreram com o objetivo de evitar que se repitam e, principalmente, para promover o aprendizado coletivo do time. Para isso, se beneficiará com o aprimoramento da resiliência, compreendida hoje cientificamente como a capacidade de atuar e se desenvolver frente a mudanças e incertezas.

Por fim, mas igualmente valoroso, o quinto pilar: potencializar o que funciona. Um time que opera a partir da validação de suas forças cresce em autoestima e autoeficácia e isso dependerá da positividade do líder.  Que ninguém se engane: não basta o tapinha nas costas, é necessário estabelecer ritos e práticas com especial foco no reconhecimento. E isso, felizmente, também se aprende.


*Diretora do Instituto Feliciência e autora do livro Feliciência: Felicidade e Trabalho na Era da Complexidade. Docente de Psicologia Positiva na PUCRS e no Hospital Albert Einstein. Pesquisadora Científica na USP e na Universidade Católica de Brasília.  



Voltar